Risco

O perigo mora acima

Entre 230 estruturas analisadas, 193 apresentam problemas, alerta engenheira que desenvolveu o trabalho

Carlos Queiroz -

As condições das marquises da região central de Pelotas não são nada boas e as pessoas se assustariam se olhassem para cima com olhos de ver. Quem comenta é a engenheira civil Maíra Moura, autora de trabalho de extensão desenvolvido entre 2014 e 2015 na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), que resultou em um diagnóstico da situação. Ela identificou que entre as 230 marquises analisadas, 193 apresentaram patologias e, destas, apenas 5% tinham laudo de atualização desde 1999, quando entrou em vigor a lei 4.369, que estabelece os critérios para conservação e estabilidade.

O objetivo do estudo foi justamente apurar se a legislação estava sendo cumprida. A ideia era contrapor se tinham os laudos atualizados e se as marquises apresentavam manifestação patológica, conta. Foram entrevistados inclusive moradores dos edifícios com marquises problemáticas. “Os resultados foram alarmantes”, acrescenta.

As vistorias apontaram para problemas como mofo, tintura descascada, corrosão total do concreto, sobrecarga permanente (aparato publicitário em cima e com habilitação na prefeitura), armadura exposta e maquiagens, entre outros. A análise visual foi realizada aos finais de semana, com autorização da prefeitura, sendo o trabalho executado em ruas da área central.

O secretário de Gestão da Cidade e Mobilidade Urbana, Gilberto Cunha, informa que a fiscalização do órgão atua toda vez que chega pedido de autorização para aparato publicitário e isso envolve uma marquise, e por consequência pede a apresentação de laudo. Não era feita inspeção em prédios residenciais, mas, segundo ele, a Secretaria vai começar a notificar os que não apresentaram o laudo, conforme prevê a lei. Cunha afirma que a maioria realmente está localizada no Centro.

De acordo com a vice-presidente da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Pelotas (Aeap), Helenice Couto, praticamente não há fiscalização no município pelo reduzido número de fiscais para atuar em toda a cidade e em diversos segmentos. Mas, se houver denúncia, a inspeção é feita. Ou ainda se for instalado um novo comércio na cidade terá de necessariamente apresentar o laudo da marquise. Salienta que a Aeap não é um órgão fiscalizador, mas se chamada para emitir uma opinião, o faz.

O presidente do Sindilojas, Gilmar Bazanella, enfatiza que nunca chegou ao Sindicato nada a esse respeito. Afirma, contudo, que o Sindilojas preza pela legalidade e a segurança, logo, se algo não está sendo cumprido, é preciso trabalhar no sentido de que ocorram as alterações necessárias. Conforme ele, o Sindilojas só tinha conhecimento da lei sobre o aparato publicitário.

Olhando com olhos de ver
Em 27 anos como professor na Universidade Católica de Pelotas (UCPel), o engenheiro civil Paulo Roberto Guterres, presidente do Centro Politécnico, que reúne os cursos de Engenharia e Arquitetura, garante nunca ter recebido uma solicitação para estudo de marquise. Também fala que nunca viu ninguém sequer varrer uma. “É como se não existisse. Funciona que nem telhado, só se limpa quando chove e as calhas entopem”, adverte.

Ele acompanhou a equipe do Diário Popular para um percurso no centro da cidade e mostrou alguns dos principais problemas, também apontados no trabalho de Maíra. É possível ver aparelhos de ar-condicionado sobre as marquises. “Cargas não previstas”, alerta. Guterres destaca que antigamente as coberturas eram feitas no alinhamento do meio-fio e isso dava certo porque os veículos de transportes eram de pequeno porte.

“Hoje, um caminhão estaciona, bate e quebra a marquise”, observa. Segundo mostrou, têm marquises que, a olhos vistos, estão caindo aos pedaços.

O reboco já começa a cair e tem vegetação nelas. O problema é que a vegetação nasce na fissura do encontro da marquise com o edifício, onde entra poeira, pólen, excremento de passarinho e germina. Em algumas já existem pequenas árvores, outras estão com fissuras e já aparece a ferrugem. Uma delas foi pintada e se não tivesse sido rebocada, as placas já estariam caindo na cabeça das pessoas, fala o engenheiro.

E um caso gritante: aparatos publicitários imensos escondem as condições estruturais das marquises. “A ação do vento vai forçando o aparato e a marquise. E ninguém consegue ver como ela está. Deve estar um caos. Se nas visíveis já estão nascendo árvores”, completa. Em resumo: é preciso atenção a essas peças, recomenda. Subir, olhar como estão, varrer, limpar. A maioria tem umidade e oxidação. “É preciso olhar com olhos de ver”, repete, por coincidência ou experiência, a mesma frase de Maíra.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

ACP sedia palestra sobre Felicidade, uma atitude interior de Roger Morales Anterior

ACP sedia palestra sobre Felicidade, uma atitude interior de Roger Morales

Miss Brasil 2004 é encontrada morta em Gramado Próximo

Miss Brasil 2004 é encontrada morta em Gramado

Deixe seu comentário